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domingo, 8 de agosto de 2010

Minha querida irmã do coração Dirce

Agora, passados mais de 30 anos estive relendo algumas postagens de velhos amigos num blog feito por eles relembrando a época da luta pela liberdade de expressão de cada um.  E me encontro com uma postagem da Dirce, minha querida amiga que mostra bem o que foi a entrada do movimento estudantil em nossas cabeças.
E outra do Paulinho Brum e de muitos outros, meus colegas daquela época em que eu era a Silvia filha dos donos da Kortina...
E esta eu quero que vocês leiam para conhecer um pouco mais sobre mim e minha época de estudante.
Não fui uma militante política, nunca participei de nenhum diretório acadêmico, mas trabalhei na prefeitura na  época do Irajá (post do Paulinho) como muitos de meus colegas, mas essa época serviu para que eu abrisse minha cabeça... e fosse a pessoa que sou hoje.
Espero que gostem


QUANDO O M.E. ENTROU NA NOSSA SALA DE AULA

Por Dirce Siqueira

(ou, quando a Arquitetura da UFPel nunca mais foi a mesma)

A TRANSFORMAÇÃO

As idéias de mudança fervilhantes no Brasil de 78/79 - que permearam os Movimentos de Massa e entre eles, o ME- também chegavam até nós estudantes, através do Coojornal, Opinião, Pasquim, Movimento, entre outros, como o Fradim. Estas fontes de inspiração começaram a sacudir nossas cabeças e as trocas de informações, onde quer que estivéssemos, se davam numa mesa de bar, na casa de algum colega ou numa república qualquer na cidade ou no Laranjal. Sim, porque naquela época morar de bando era o máximo da liberdade.Comia-se carreteiro e bebíamos caipirinha e na melhor das hipóteses, vinho de garrafão, e ...fumacês. Era e ali que aprendíamos a “socializar e democratizar”, riqueza esta adquirida para o resto de nossas vidas e que a garotada de hoje,infelizmente, não conhece.Saem da casa dos pais e vão direto para um apartamento em vôo solo.Nosso vôo era coletivo. Mas isso é um outro assunto.
Mas o Movimento Estudantil tomou força, quando a estudantada amorfa, se ligou que algo se passava de verdade e que aqueles colegas com cara de malucos, cabelões, bolsa de couro com alça na diagonal e barbudos, falavam coisas coerentes e que a maré não tava pra peixe. Era preciso engrossar o bolo e começar a conquistar eleitores para as chapas de oposição e tirar a direita dos Das e do DCE.De repente a coisa pegou jeito porque a estudantada começou a votar e quem votou começou a fazer política estudantil de modo indireto, mas eficaz, dando o real sentido para o movimento, pois era preciso aderir e escolher a chapa mais representativa.

Nunca participei de chapas - sempre fui avessa a rótulos, defeito talvez de fabricação - mas votava, torcia e brigava com os coleguinhas que não queriam votar, ou seja, aqueles que achavam que Movimento Estudantil era coisa de vagabundos. Verdadeiros CDFs,preocupados com a nota e nada mais.
Mas o ME de Pelotas acho eu, entrou pra valer na nossa sala de aula, mais precisamente a partir da Semana Acadêmica de 1978 ou (79?) com Oscar e Vagareza, se não me engano na cabeça. Aí, a Faculdade de Arquitetura nunca mais foi à mesma. Tomou cor, sabor e realidade. Até então, era apagada, insossa e autista. Os temas das cadeiras de Projeto eram em sua maioria de cunho conservador, os quais muito pouco nos inspiravam. Fazíamos o dever de casa e nada mais. Quando fazíamos. Esta Semana Acadêmica, meninos, foi um marco histórico. Aí começou o resto de nossas vidas. Ela está conosco até hoje, no cotidiano de nossos trabalhos.Acordamos.Vieram debatedores de diversos lugares, como o Arq. Arana do Uruguai, Ivan Misoguchi e outros que eu gostaria que alguém refrescasse a minha memória.

Após essa avalanche de informações e debates para uma arquitetura de responsabilidade social, o debate foi direto para a sala de aula. Lembro perfeitamente que começou a haver um racha sutil dentro das salas de aula. Os certinhos de um lado e os malucos reivindicadores, transgressores de outro.Queríamos contribuir para um novo país, e queríamos propor temas mais abrangentes que tratassem de temas sociais, e que nos embasasse para projetos com propostas mais engajadas.

Começamos a ler mais. Entrou Paulo Freire nas nossas vidas. E a Palmarinca também. Iniciaram as discussões em sala de aula. Projeto que se prezasse tinha que ter um grande embasamento teórico.As leituras começaram a nortear nossos projetos e começamos a ficar mais ligados na arquitetura e urbanismo voltados para uma causa maior.

Ali era um laboratório,uma oficina, como toda a sala de aula deve ser. Claro que nem todos participaram. Mas quem aderiu jamais esquecerá esta experiência. Começamos a trabalhar em equipe. Trabalhar projetos para o coletivo, com idéias coletivas.Montavam-se grupos com integrantes de diversos níveis de aprendizado.Era chamada, esta prática pedagógica, de ateliê vertical. Alunos do semestre um estavam lado a lado com alunos do semestre final. Deu pano pra manga. Resultaram interessantes projetos comunitários, que se exeqüíveis, não sei, mas instigantes, sim.

O tema central (gerador), tais como HABITAÇÃO, ALIMENTAÇÃO, EDUCAÇÃO, LAZER, ETC era lançado e daí partíamos para o projeto abrangente dentro de uma tema.As idéias fervilhavam em nossas cabeças e projetar passou a ser uma delicia.Dávamos asas a imaginação.Entrávamos madrugada a dentro.Não só desenhando, mas rindo, brincando, fotografando, posando.Mas isso também é verve para muito assunto.

Enfim, fomos os pioneiros, de uma sala de aula mais producente, graças ao ME, e a Semana Acadêmica de 78( ou 79?).

E para provar um agrupamento desses , com projetos barulhentos, vai aí uma foto histórica. As demais estão em nossos acervos, com a autoria de Breno e Maurício. ESTA É PARA DAR A LARGADA!

Na primeira fila, por uma questão de ordem, da esquerda para a direita: Mauricio, eu (Dirce), Fernando Fuão, Rosa e Breno. Como chegamos aí? Bem, isto é outra história. Há desdobramentos.Alguém se habilita?